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É normal trabalhar para os outros, não empreender ou ser patrão

Nessas últimas semanas, tenho trabalhado bastante para colocar alguns dos meus aplicativos online. O trabalho tem sido desafiador, exaustivo tanto física quanto mentalmente, e exige um trabalho intenso de crunch time quase todos os dias.

Tenho plena consciência de que este crunch time é motivado pelas minhas próprias metas e cobranças para esses projetos, e poderia adequá-las para algo mais leve. Mas se deixar muito relaxado, sendo como sou, é provável que eu acabe procastinando.

Para ter uma ideia, em muitos dias, vou deitar para dormir por volta da 1h30 da manhã, sendo que às 6h30 tenho que levar minha filha para a escola e às 7h começo na empresa em que trabalho com carteira assinada.

E tendo isso em mente, me pego pensando se esse crunch time, se esse estresse extra compensará... Se sou um tipo de pessoa que serve para ser meu próprio patrão, para empreender...

A fantasia de ser empreendedor ou de ser patrão.

Há uma grande probabilidade de que um amigo ou parente nosso já tenha dito que não vê a hora de abrir um negócio próprio e virar patrão. Que não aguenta mais trabalhar tanto para os outros, ficar muito estressado e ganhar tão pouco.

Eu já fui essa pessoa. Volta e meia ainda sou essa pessoa (como agora, com meus aplicativos e crunch time). E eu entendo de onde vem esse pensamento. O estresse diário, a falta de perspectiva, o abuso... Muitos fatores fazem com que pensemos assim.

Às vezes, nem é tanto a questão de onde você trabalha e o clima da empresa. Muitas vezes, simplesmente queremos criar algo que podemos chamar de nosso. É um desejo latente, difícil de deixar de lado, e que nos impele a querer trabalhar mais para realizar esse desejo.

Mas a que custo?

O choque de realidade em empreender ou em ser patrão.

Segundo o Sebrae, cerca de 30% dos MEI (micro-empreendedor individual) e 21% das ME (micro empresas) fecham antes dos 5 anos de atividade.

E ainda assim, muitas pessoas se sentem impelidas em "montar um negócio". Muito por acharem que ao ter um negócio próprio farão diferente e poderão criar algo sustentável, sem estresse, gerando renda, e ficarão ricos. Infelizmente, a grande maioria passa bem longe disso.

Daí vem a pergunta: Devemos piorar nossa saúde, ficar mais estressados, descansar menos, deixar de curtir nossa família e amigos? E tudo isso ainda correndo o perigo de não dar certo? É saudável investir tempo e dinheiro em uma empreitada cheia de grandes incertezas?

A árdua batalha pelo "seu lugar ao sol".

Não tem porque colocar na cabeça que temos de empreender ou de sermos patrões. Geralmente, essa ideia está associada a uma visão que temos que pessoas empreendedoras ou patrões são pessoas ricas.

Enquanto há certa verdade que pessoas ricas costumam ser empreendedoras ou patrões, nem todos patrões e empreendedores são ricos. Muitas pessoas gastam todo seu dinheiro tentando alavancar algum negócio e acabam não conseguindo.

Basta lembrar do relatório do Sebrae. A maioria não está preparada mentalmente, não possui um plano de negócios ou é um plano deficiente, e também não sabem gerir de forma eficiente. Muitos acham que é fácil e não precisam de estudos ou empenho.

Se você quer mesmo seguir esse caminho, coloque todo seu empenho, estude, aprimore-se. Não será mais fácil só porque você está no comando agora. Entenda que, agora, você terá bem mais trabalho pela sua frente.

Enquanto antes era apenas trabalhar de 8h às 18h, com 1-2h de almoço, agora, principalmente no começo, tudo é muito diferente. Você, desde que acorda até a hora de dormir (ou mesmo durante seus sonhos), só pensa na empresa:

  • em todos que dependem da sua empresa
  • nas contas que a empresa tem
  • nos serviços prestados que tem de entregar
  • nas "poucas horas" para resolver todos os problemas
  • no pouco tempo com a família
  • nas atividades que perdeu com suas crianças
  • no dinheiro que está gastando
  • no retorno que está demorando a chegar
  • na burocracia e papelada necessária

Essa estresse e pressão constante não é para todos. E isso é completamente normal. Assim como não é para todos praticar algum esporte em alto nível, ensinar outras pessoas de forma efetiva, ser mestre no entretenimento, e por aí vai.

É normal trabalhar para os outros.

Lembre-se: o normal é não ser empreendedor ou patrão. Caso contrário, todos já seríamos.

Temos de mudar essa ideia que é o fim do mundo se aposentar tendo trabalhado apenas para os outros. Não há mal algum nisso e as chances disso acontecer com qualquer um de nós, são maiores que a de ficarmos milionários. É o normal.

Decerto, a grande maioria dos trabalhadores recebe um salário muito distante daquilo que seria considerado ideal. Isso não acontece apenas no Brasil, mas por quase todo o mundo. E, infelizmente, essa é a realidade.

Contudo, isso não impossibilita de buscarmos empregos melhores, que paguem bem e nos deem uma certa qualidade de vida. Nada que nos torne podres de rico, mas suficiente para não ficarmos preocupados no final do mês.

Não devemos pensar que devemos nosso emprego à empresa que estamos trabalhando. Claro, devemos respeitá-la, dando nosso melhor. Porém, se uma oportunidade melhor aparece, não temos porque ficarmos com peso na consciência em escolhê-la.

Temos potes de ouro no fim do túnel também.

Também temos de mudar essa ideia de que não dá para viver bem trabalhando para os outros. É possível, sim, ganhar muito dinheiro trabalhando para os outros, e em qualquer lugar do mundo.

O que temos de entender é que, assim como quando queremos ser nossos próprios patrões e empreendedores, ganhar muito dinheiro trabalhando para os outros é algo que requer muito empenho, estudo, e tempo investido. Muitas vezes em detrimento de nossa saúde e tempo com nossas famílias.

Alguma vezes, precisamos até usar de artimanhas, nada que faça mal aos outros, mas certas bajulações, horas extras não planejadas, tapar os olhos para os erros dos outros, tudo em busca de um aumento ou promoção.

Mas, uma vez conseguindo alcançar aquilo que tanto queremos, podemos voltar para nossas jornadas 8h-18h, aproveitar nossas famílias, nosso tempo livre para descansar, e ainda termos um dinheiro bom na conta.

Dependendo da sua área de atuação, é possível viver muito bem. Concursados de bancos, com a chance de cursos internos anualmente; trabalhadores de agências financeiras; criativos de marketing com campanhas para multinacionais; trabalhadores da area de TI, principalmente os da área de desenvolvimento...

O poder da área de desenvolvimento

Nós da área de desenvolvimento temos a vantagem de poder trabalhar remoto, recebendo em moeda estrangeira mais valorizada. Essa possibilidade de receber em dólar, euro, libras, francos suíços permite que as empresas contratem por um valor mais barato, enquanto aproveitamos do câmbio e ganhamos "mais".

Mesmo quando as vagas não são remotas, algumas vezes é possível viver melhor com pouco dinheiro num outro país do que viver no Brasil com pouco dinheiro. Não precisamos ficar ricos para termos uma mudança de vida boa.

A simples mudança para um local em que é possível usar o celular sem se preocupar com o roubo já é uma grande melhoria. Ainda temos lugares onde tanto escolas quando universidades são gratuitas e de excelente qualidade, necessitando no máximo de investimento em material próprio e transporte. Esse último ainda pode ser custeado pelo governo em diversos casos.

Ao se mudar para um desses lugares, o salário inicial, que inicialmente parecia ser médio ou baixo, torna-se um pouco atrativo. E lembrando que não devemos nosso emprego à qualquer empresa e podemos trabalhar e buscar melhores oportunidades.

Por vezes, o pouco já é o suficiente para uma vida digna. E mesmo que não seja, você terá aprendido algo sobre suas capacidades, sobre como é trabalhar para fora, e o que precisa fazer para buscar algo que seja suficiente.

A vida é sua e só sua

No final das contas, você é quem sabe o que é preciso para sua vida. Você quer empreender ou criar uma empresa própria? Vá e faça acontecer. Quer continuar trabalhando para os outros, já que há uma estrutura mais "simples" a seguir? Continue.

Não deixe os outros decidirem por você o que fazer com sua vida.